sábado, 4 de dezembro de 2010

Estudo aponta contribuição das florestas para a produtividade do café

Café cultivado no entorno das reservas florestais teve um
aumento de produtividade de até 20%.
Que o verde das matas traz benefícios para o equilíbrio ambiental do planeta, todo mundo já sabe. Mais do que isso, a sociedade cobra a manutenção dessa condição, especialmente do setor produtivo. O que talvez nem todos tenham conhecimento é que áreas de florestas também podem contribuir de maneira direta para a produtividade agrícola. Um exemplo é o café produzido em uma região de Rondônia. , objeto de estudo da Embrapa, concluído neste ano. O trabalho mostrou que o café cultivado no entorno das reservas florestais teve um aumento de produtividade de até 20% em relação ao café cultivado em áreas mais distantes das reservas. Um exemplo claro do benefício gerado pela mata em termos de produtividade do café.

O trabalho foi realizado pelo pesquisador da Embrapa Monitoramento por Satélite, João Mangabeira, e culminou na defesa de tese de doutorado no Instituto de Economia da Unicamp, sob orientação do professor Ademar Ribeiro Romeiro. O trabalho inédito analisa a trajetória de acumulação de capital pelos produtores rurais familiares de Machadinho D’Oeste, RO, por intermédio dos serviços ambientais prestados pelas matas nativas - serviços que envolveram principalmente o trabalho de polinização das abelhas nativas e a geração de um microclima que reduziu o abortamento das flores do café em períodos críticos.

O aumento de 20% na produtividade tem muito peso para um município onde os agricultores familiares são dependentes da renda proveniente da cultura do café. Nos últimos dez anos, eles vêm enfrentando um grande problema na região com a ocorrência de sucessivos “veranicos”. Esse fenômeno, caracterizado por dias de calor intenso e insolação no início da estação chuvosa, em agosto e setembro, vem afetando justamente a fase de floração do café e prejudicando o crescimento dos frutos. “O cafeicultor sabe bem que a falta de chuvas na época da floração é prejuízo certo porque vai provocar uma redução drástica na produção da sua lavoura”, explica João Mangabeira. O estudo mostrou que os produtores de café que estão localizados perto das reservas florestais sofreram menos com o impacto dos “veranicos”. “O microclima gerado pela mata ajudou a lavoura de café a enfrentar o período de estiagem, reduzindo o abortamento das flores e garantindo a produtividade dos frutos”, ressalta o pesquisador.

O trabalho, que analisou a trajetória de acumulação de capital dos agricultores ao longo de 22 anos, utilizou imagens de satélite de alta resolução para identificar as propriedades rurais e as reservas florestais na área de estudo. Os agricultores foram divididos em cinco tipos quanto ao seu nível de capitalização e, por meio de geoestatística, foi realizada a correlação dessa radiografia da área com os dados socioeconômicos. Tomando como referência a distância em relação às reservas de mata nativa, o estudo analisou a localização tanto das propriedades mais capitalizadas ao longo do tempo quanto das lavouras de café mais produtivas. Os resultados mostram que as propriedades com café plantado próximo às matas, em média, apresentam maior produtividade e melhor desempenho. Observou-se também que, em maior quantidade, propriedades com melhor nível de capitalização situam-se próximas às reservas, evidenciando a existência de prestação de serviços ambientais pelas matas.

Para o pesquisador João Mangabeira, é essencial esse esforço de quantificar, do ponto de vista econômico, a importância e os benefícios dos serviços ambientais em nossas vidas. “Quando orientados para a agricultura, esses serviços ambientais podem ser traduzidos ainda em redução dos desmatamentos, absorção do carbono atmosférico, conservação de água, conservação do solo, preservação da biodiversidade, redução do risco de fogo, entre outros”, completa o pesquisador.

Machadinho D’Oeste
O município de Machadinho D’Oeste, onde foi realizada a pesquisa, nasceu a partir de um projeto diferenciado de reforma agrária do Incra, estabelecido na década de 80. Diferente da maioria dos projetos de assentamento na Amazônia, em Machadinho D’Oeste foram planejados um traçado e uma divisão de lotes que não obedeceram ao tradicional padrão do tipo “espinha de peixe”. Ali, procurou-se combinar lotes privados com reservas florestais coletivas, que vêm se mantendo em boas condições, mesmo com a evolução da atividade agropecuária no município. A rede viária respeitou o relevo e a hidrografia do local, permitindo também o acesso mais fácil aos lotes mais remotos e diminuindo os custos de manutenção. Os atores locais acabaram sendo contemplados com um modelo institucional diferenciado de assentamento, com repercussão em vários aspectos ligados à sustentabilidade econômica e ambiental da região.

Graziella Galinari/Embrapa

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